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terça-feira, 17 de maio de 2011

Os Orixás foram seres humanos: revendo conceitos de acordo com a Religião Tradicional Iorubá.

Os Orixás foram seres humanos: revendo conceitos de acordo com a Religião Tradicional Iorubá.




Mógbà Rudi
Abril – 2011



O propósito deste trabalho é rever alguns conceitos sobre Òrìsà, conforme publicados no livro Ifá will mend our broken world”, Thoughts on Yorùbá Religion and Culture in Africa and the Diaspora, Iroko Academic Publishers, 1997, Published By Aim Books (Roxbury-Massachusetts) e também publicado em espanhol como “Ifá recompondra nuestro mundo roto”, o qual traz uma entrevista com Wándé Abimbó, renomado escritor sobre a Religião Tradicional Yorùbá e também Bàbálawo Àse de Ifá[1]. Neste estudo tentaremos entender com mais clareza a terminologia “Òrìsà”, pois mesmo nos dias de hoje acredito que não temos bem definido ao certo esta terminologia. Muitas perguntas ainda são feitas dentro das comunidades, sobre esse tema. O que é Òrìsà?
            Após longas pesquisas em fontes confiáveis, fui prestigiado ao ler a obra de Wándé Abimbó, onde o mesmo é entrevistado por Ivor Miller e a partir desta, estarei efetuando tradução do espanhol para português de trechos do seu livro. Estes trechos são de suma importância para o entendimento da concepção Yorùbá de Òrìsà.
(pg. 64)
[...] Ivor: Muitos conhecedores Cubanos de Òrìsà tem revelado que quando o Oòni de Ifè conheceu Fidel Castro, ele e todos seus representantes se limparam com colas de cavalo porque o considera uma pessoa muito poderosa.
Wande: O Oòni de Ifè está muito bem protegido de qualquer coisa na Terra. Não pode ter se limpado na frente de todos. O mesmo é um Òrìsà. O nome completo é Oònrìsà, que significa Òrìsà Oòni. Está muito mais elevado que qualquer humano. O assistente do Oòni cujo título é Sàrun, pode ser a pessoa que levava a cola de cavalo [...]
Ao estudar esta parte da entrevista, podemos chegar ao entendimento que Oòni Ifè (Rei de Ifé) é um Òrìsà reencarnado na terra, pois o mesmo é descendente direto de Odùduwà e portando esse será convertido em um Òrìsà após sua morte. Fato esse também é explicado com demais localidades Yorùbá, como Òsányìn foi Rei de Èsìjé, Oko em Irawò, Oya em Irá, Sàngó em Oyo, etc.
(pg. 69)
[...] Ivor: Isto é feito para cada um dos 400+1 Òrìsà?
Wande: Sim, além do mais, porque cada Aláàfin de Oyo, cada Oòni de Ifè que morre, acredita-se que se transformam em Òrìsà. Nem todos são recordados, mas teoricamente tiveram oportunidade de transformar-se em Òrìsà. Existe hoje pessoa canonizada que se converte em Òrìsà. Assim foi como Aganjú e Sàngó se converteram em Òrìsà. Ninguém que seja descendente consangüíneo de um Òrìsà poderá converter-se em um Òrìsà. Uma pessoa comum e normal, ao morrer, pode converter-se em Egúngún após sua morte e este nem sempre se mescla com os Òrìsà [...]
Já nesta página do livro Abimbó dá a explicação de como um rei possa converter-se em Òrìsà, alegando a expressão “descendente consangüíneo”, esta totalmente terrestre. Fato esse nos dá o entendimento de que se quando o Òrìsà veio ao mundo, teve que provar seu poder, como rei, com inteligência, etc. E que após sua morte foi lembrado nacionalmente e até globalmente por seus adeptos e descendentes. Sàngó é um exemplo desse fato, onde quando em vida adorava Àmàlà e hoje a maneira de agradar essa divindade é através desta iguaria, assim sucessivamente ocorreu com os demais Òrìsà.
(pg. 89)
[...] Ivor: Qual é a origem lingüística da palavra Òrìsà?
Wande: “Ri” pode significar plantar algo na terra, ou estabelecer algo. Sà” pode significar honrar ou pagar tributo. Se pode dizer que a palavra Òrìsà significa algo que se planta e estabelece no solo e se rende honras. Isto é apenas uma hipótese[...]
Abimbó nos deixa curioso com a revelação desta expressão, pois pode dar o entendimento que ainda nos falta sobre esse tema “Òrìsà”, onde muitos acreditam que provém da palavra “Orí” (cabeça), ficando uma espécie de dono da cabeça do adepto. Esta palavra “Orí” é diferente da empregada na palavra Òrìsà (Orì), tanto em acentuação como na pronúncia.
(pg. 90)
[...] Ivor: A palavra Oba” significa Rei. Assim que deve ser para homem?
Wande: E quando usam a palavra “Reina”, referindo-se com respeito à Oya, pensam que é por ser a esposa de Sàngó. As mulheres eram muito poderosas na sociedade Yorùbá, especialmente depois do controle Europeu. Um dos melhores exemplos é Oya, que era mais que uma rainha e esposa de Sàngó, pois também governava Irá. A seguinte canção fala disso:
Oya dolú,
Ègán ò royin.
Oya dolú,
Ègàn ò royin.
Ègàn ò mò le wí pé kóyin má se dùn o.
Oya dolú,
Ègàn ò royin.
Oya tem sido poderosa
A diversão não afeta o mel
Oya tem sido poderosa
A diversão não afeta o mel
A diversão não pode parar o mel de ser doce.
Oya tem sido poderosa
A diversão não afeta o mel.
Oya obteve o poder por direito próprio. Ela foi uma mulher mais poderosa que o marido. Estava casada, tinha filhos, era mãe e era o Òrìsà mais poderoso de todos. Sàngó teria que buscar a poção e um antídoto para Oya. Isso é o que diz a canção que segue:
Sàngó ti róògùn Oya se,
Sàngó ti róògùn Oya se,
Olúbáñbí, Àfonjá, Ewélére o.
Sàngó ti róògùn Oya se.
Sàngó tem encontrado o antídoto para Oya
Sàngó tem encontrado o antídoto para Oya
Olúbáñbí, cujos outros nomes são Afonjá e Ewélére.
Sàngó tem encontrado o antídoto para Oya [...]
Ao analisar essa parte do texto, nos faz compreender que mulheres também eram poderosas e que também poderiam tornar-se Òrìsà, fato esse que ficará mais claro para nosso entendimento, na próxima parte relatada por Abimbó.
(pg. 91)

[...] Ivor: Alguns títulos em Yorùbá são exclusivamente para os homens, como o Oòni e o Aláàfin de Oyo. É possível para uma mulher, ser Oòni Ilé-Ifè?
Wande: Sim. Acredita-se que houve uma, Oba Òrónpòtò.
Ivor: Como se adquire, uma pessoa este poder?
Wande: Pelo conhecimento, estudo e prática [...]
Chama-nos a atenção nessa parte, porque mulheres podem tornar-se Òrìsà, surgindo um ponto importantíssimo para aqueles que acham que a cultura Yorùbá é totalmente patriarcal.
Através do estudo desse magnífico autor podemos entender que realmente Òrìsà teve passagem na terra, foram seres humanos, mostraram seu poder, foram lembrados e adorados tanto regionalmente como globalmente, como acontece nos dias de hoje. Não podemos também deixar de lado o trabalho do professor Michael Adémola Adesoji em seu livro “Nigéria, História – Costumes, cultura do povo Ioruba e a origem dos seus Orixás” (1990 – páginas 42 / 43), onde relata claramente sua opinião formada sobre sua noção de Òrìsà no qual veremos a seguir:


(pg. 42)

[...] “Após sua morte um homem pode tomar-se um Òrìsà para seus filhos, que passam a cultuar sua memória. O fundador de cada família, por exemplo, sempre se transforma em um objeto de culto para seus descendentes. Alguns homens por seu valor pessoal, tomam-se Òrìsà cultuados por toda a nação. De heróis locais passam a heróis nacionais” [...]

Não temos a intenção de nos tornar os donos da verdade, mas com esses fatos bem claros dentro da nossa comunidade religiosa de matriz africana, poderemos ter mais segurança a esse tema, pois assim teremos como dar a devida compreensão dentro de nossas casas. Ao usar o livro de Abimbó tivemos nos deparado com demais outros temas importantes desse trabalho, que deixaremos para uma próxima oportunidade e que abrange muito além deste entendimento. Podemos apenas adiantar que o cosmo Yorùbá é muito elástico, possuindo 400 + 1 divindades benévolas (Òrìsà) do lado direito do cosmo e 200 + 1 entidades malévolas do lado esquerdo (Ajogun), este +1 abre espaço para surgir novos Òrìsà, bem como, novos Ajogun (doenças), como a própria “gripe suína” que apareceu nos últimos anos.
Aproveitamos para lembrar que as forças malévolas co-habitam o universo, mas as força benévolas (Òrìsà) são em sua maioria. Cultue Òrìsà com coração e todos terão grandes aliados no combate e equilíbrio do cosmo. E que tenhamos todos que tentar viver com um bom caráter “Ìwá Pèlé”, para quem sabe um dia poder encontra-lhes novamente do Òrun.


Fontes Bibliográficas

ABIMBOLÁ, Wándé, Ifá will mend our broken worldThoughts on Yorùbá Religion and Culture in Africa and the Diaspora, Ifé, Iroko Academic Publishers, 1997.
ABRAHAM, R. C.  Dictionary of Yoruba Modern, London, 1962.
ADESOJI, Michael Adémola, Nigéria, História – Costumes, cultura do povo Ioruba e a origem dos seus Orixás, 1990, edição do Autor.
BOWEN, Rev. T. J., Grammar and Dictionary of the Yoruba Language: With an Introductory Description of the Country and People of Yoruba, Interior of Africa, 1879-1856.
JONHSON, Rev. Samuel, The History of the Yorubas - From the Earliest Times to the Beginning of the British Protectorate, Lagos, 1921-1960.
OSAMARO, Mr. Cromwell, Ifism the complete Works of Òrunmìlà, Athelia Henrietta, 1998, Versão em Português: A obra completa de Òrunmìlà a sabedoria divina.
VERGER, Pierre, Orixás (Deuses Iorubás na África e no novo mundo), Editora Corrupio, São Paulo, 1993.
____________, Etnografia religiosa iorubá e probidade científica, Revista Religião e Sociedade nº 8, São Paulo, 1982


[1]Bàbáláwo Àse de Ifá – Bàbáláwo porta voz de Ifá. Wándá Abimbó foi eleito por todos Bàbáláwo Yorùbá mais antigos com o título “Àwíse Àgbàiyé” – Porta voz mundial da cultura Yorùbá no mundo.

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