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terça-feira, 17 de maio de 2011

EBO - O CONCEITO YORÙBÁ DO SACRIFÍCIO

EBO

O conceito Yorùbá do sacrifício

Quem nasceu primeiro: O ovo ou a galinha?

 

Ebo para Òsun em Osogbo (Foto: BBC)

O Por: Mógbà Rudi Omo Sàngó


O cosmo Yorùbá é dividido em duas metades. A direita está habitada pelas forças do bem e a parte esquerda está habitada pelas forças malignas conhecidas como Ajogun. As forças malignas possuem oito guerreiros importantes que são: Ikú Oníkò (morte), Àrùn (doença – esposa de Ikú), Òfò (perda), Ègbà (paralisia), Òràn (problemas), Èpè (maldição), Èwòn (prisão, que evoluiu muito como força sobrenatural em algumas sociedades contemporâneas) e a última é Èse (todo resto dos males não mencionados), por exemplo, uma dor de estômago é um Ajogun igual que a lepra, dor de cabeça, gripe, malária, sarampo, câncer, etc. Estas forças malignas são em total de 200+1, sendo que este +1 dá espaço para que apareçam novos Ajogun, tais como HIV, câncer, e novas doenças.
Os Òrìsà, ou divindades benévolas, que habitam o lado direito, somam 400+1, tal como no outro exemplo, abrindo espaço que apareça novas divindades “Òrìsà”. Exemplo disso são os Oba (reis) Yorùbás que após sua morte passam da etapa de Egún para Òrìsà, assim como ocorreu com Sàngó, Aganjú, Oya, etc. E assim como ocorrerá com o atual Oni de Ilè Ifè a excelência Oba Okunadé Sijuwàdé que é o descendente direto de Odùduwà na terra. O cosmo Yorùbá é muito elástico e quando oferendado de forma correta gera equilíbrio. Para os Yorùbá o número de animais sacrificados não são muito importantes como no nosso Batuque. Temos que ter em mente que quando fazemos um ebo para determinada pessoa que sofra algum mal, como exemplo: Aqui no Batuque chamamos de “troca” com determinado Òrìsà não é errado.
Muito pelo contrário, é corretíssimo, pois numa “troca” para um tipo de doença (Ajogun) é usado uma oferenda para um determinado Òrìsà e dividido em ambos os lados do cosmo para formar equilíbrio.

Ebo Batuque ti Sònpònnófún Dida Ará
(Ebó do Batuque com Xapanã para saúde, contra doença)

Material

               Axé completo de Xapanã , 1 pombo preto , 1 pombo branco , canjica branca , velas brancas.

Como fazer
Passar o axé de Xapanã , 2 pombos 1 preto o outro branco e uma canjica branca ,velas . Depois de passar os axés, pegar o pombo escuro , quebra-lo e estraçalha-lo dizendo : estou quebrando toda a doença do fulano e todos os males (Ajogun). .Após plantar na praia, fazer o axé de misericórdia para Oxalá, passar a canjica branca e o pombo, levar na beira da praia (local onde o pombo possa voar) arriar a canjica, vela , passar mel no pombo e solta-lo vivo, pedindo para Oxalá misericórdia, vida, saúde e bastante claridade.

Quem divide essa oferenda é Èsù que no nosso caso é chamado de Bara, pois é o único que movimenta-se em ambos os lados. Por isso recebe suas oferendas em primeiro lugar. E assim acontece com os demais problemas que ocorrem nas vidas das pessoas, como desemprego, miséria, abandono (esse no caso de procura de um namorado). Nossa cultura do Batuque assemelha-se muito com os conceitos tradicionais Yorùbá, minha intenção é com o tempo ir mostrando suas semelhanças.
Não podemos também nos esquecer dos trabalhos feitos para o mal, onde são invocados apenas as forças negativas do cosmo, ficando esta prática de livre arbítrio dos adeptos.
A Seguir apresento parte traduzida por mim da entrevista com Awíse Awo Agbàiyé (Porta voz no mundo da cultura Yorùbá) Wande Abimbóonde o Dr. Ivor Miller entrevista o mesmo referente a este assunto.

Ivor: Como é possível que as forças benévolas e malignas habitem o mesmo universo?

Abimbólá: O ponto é, que não existe uma relação pacífica entre estas duas forças. Sempre existe o conflito. As forças do mal estão sempre lutando contra os humanos. Por isso que em nossa parte do cosmos, sempre existe o conflito. Os conflitos sempre estão na ordem do dia, mas não em paz. Qualquer coisa que se faça envolve uma classe de conflito. Quando se desjejua, almoça ou janta, unicamente se cria um conflito, sem que se perceba, pois teve haver com a morte de algo no universo. Ocorrendo de algum sacrifício animal, de insetos, plantas ou microorganismos.

Ivor: Como que todos nós poderemos ter paz no nosso lado do cosmo?
Abimbólá: Para a maioria dos africanos, os sacrifícios se realizam com a finalidade de alcançar que trabalhem para nós, tendo como resultado a paz. Os sacrifícios devem envolver todas as forças, tanto malignas como benévolas, assim como a dos humanos. O sacrifício é a maneira de comunicar-se com as forças sobrenaturais, para fazerem-se presentes em nossos problemas. Uma vez que os sacrifícios tenham sido aceitos ou recebidos, todas as forças estão comprometidas a trabalhar para os humanos e assim resolver os problemas e alcançar a paz.

Os Yorùbá utilizam com freqüência “frangos” para seus sacrifícios. Por que disto? O frango (Galo e galinha), acompanhou as divindades em sua viajem do Orun (céu) para a o Àiyé (terra). O frango foi quem afrouxou a terra, para ser trazida desde o Orun pelas divindades e assim, ser espargido, em forma por todo o mundo, antes que a terra aparecera. O frango foi o primeiro habitante da terra, sendo por isso que para os Yorùbá é simples a dúvida de quem nasceu primeiro: O ovo ou a galinha?
O homem tem a tendência de fazer uso diário das coisas que lhe dão bons resultados. Um bom exemplo é o cavalo e o camelo. Por isso, quando quer enviar mensagens ao Orun (céu), faz uso do frango, porque ele recorda que foi quem acompanhou as divindades em sua viajem a terra e és um conhecedor tanto do céu como da terra, e por isso é um bom intermediário.
O sacrifício tem sido motivo de controvérsia entre muitos estudiosos, sem mencionar a milhares de evangélicos que seguem ativos na África. O sacrifício Africano tem sido muito mal entendido. Para os Yorùbá, representa a maneira de reorganizar o universo a favor dos humanos. Os Africanos pensam que falar não é suficiente para comunicar-se com os seres sobrenaturais. Como podemos estar seguros de que Olódùmarè entende nossa linguajem ou a de todo o mundo?

Ivor: Como é que os animais, que não falam, pode comunicar-se com Olódùmarè?

Abimbólá: Pense nas formigas, se você coloca um pouco de mel na mesa, no dia seguinte encontrará formigas. Seu sentido de olfato está muito mais avançado que o nosso. É por esta razão que não devemos pensar que somos mais que os outros que no contrário, não somos nada. Muitas pessoas nem sequer podem distinguir o sal do açúcar. Por isso é que as rezas ou as palavras não são suficientes para comunicar-se com as divindades. Quando se leva a cabo um sacrifício e dedicado a divindade que indicada, uma entidade comunicativa que reparte conhecimentos de ambos os lados do universo, tanto direito como esquerdo, se encarrega de reportar-lhe a Olódùmarè tudo o que se passa. Esta divindade chama-se Èsù, é bom, mas as 200+1 deidades malévolas também são suas filhas.
Como pode ver, é difícil comunicar-se diretamente com o deus Africano. Não é como as outras religiões onde o contato com o deus principal é direto.  Olódùmarè criou ambas forças, o bem e o mal. Lhes deu Àse (energia vital) a cada lado. Nós podemos perguntar porque ele fez isso? Porque sabe que um problema sempre tem dois lados ou versões. Quando se fala do bem deve-se pré-supor que também existe um mal, porque não pode existir um sem o outro.
Por exemplo, se alguém enferma e através de um meio, se pede um sacrifício, este deve ser não só para as divindades do lado direito, como também para as do lado esquerdo. O homem não oferece o sacrifício as forças da direita, sem as suas divindades da esquerda. Èsù que reparte elementos de ambos os lados. Èsù ordenará que as forças do lado esquerdo distancie-se da pessoa afligida. Assim, se alcança a paz, ao menos temporariamente, porque amanhã será outro dia. É por isso isto que os sacrifícios devem ser oferecidos constantemente. Esta maneira de ver a vida é difícil de entender, sobre tudo na Europa e América. Porém esta é uma forma interessante de ver viver a vida, porque implica que cada um de nós é, em certa medida, responsável de alcançar prosperidade. Asim que se quer melhorar, há que oferecer sacrifícios. A paz e a tranqüilidade não são postas como tapete vermelho na frente de ninguém, devendo ser buscada. Seja o que seja,
que pode ser removido ou colocado, para alcançar a ordem do universo a seu favor, terá que ser por meio do sacrifício. Este sacrifício pode não ser somente com sangue ou comida, e também através de ações. Por exemplo, quando uma viúva oferece-se para limpar o trono de Ifá a cada quatro dias, dançando e cantando, assim mesmo está oferecendo um sacrifício. A idéia Yorùbá sobre o sacrifício é uma importante contribuição africana ao pensamento religioso, porém regularmente é mal entendido.

 
 
 

 

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