Texto de: Bàbá Osvaldo Omotòbatálá
Tradução: Mógbà Rudi Omo Sàngó
Quando navegamos pela internet, podemos encontrar variadas informações sobre os distintos tipos de expressões religiosas que deixaram os escravos africanos na América. Entretanto, nem sempre ditas informações podem ser coerentes, cabendo a possibilidade daquele que escreve possa ter outras intenções distintas e de oferecer simplesmente informação desorientada e sem ética.
Tratando-se do Batuque, é muito mais difícil obter uma informação lúcida e clara, pois como explicaremos mais adiante, onde tentaremos esclarecer um pouco mais algumas confusões e deixaremos claro que o “Batuke”como expressão religiosa não provem do Candomblé Baiano do norte do Brasil.
A Origem
Apalavra "Batuke" ou "Batuque" pela qual é conhecida esta expressão religiosa, provém da denominação que davam os escravos de origem “Bantú” a suas reuniões "Batucajé", palavra que da origem a "Batuque" e "Batucada" como sinônimo de percussão. Em referência a esta palavra, se pode encontrar o seguinte em "A Galinha-D'Angola" de Arno Vogel - Marco Antonio da Silva Mello - José Flávio Pessoa de Barros / Editora Pallas.
"BATUCAJÉ” – Com este término se acostumava a designar a percussão que acompanha as danças nos terreiros, por extensão designa também as danças.
“BATUQUES” – v. Batucajé. v. Candomblés.
“CANDOMBLÉS” – Designação genérica dos cultos afro-brasileiros. Acostumam, em tanto, distinguir-se por suas designações regionais:
Candomblés (este septentrional, especialmente Bahia);
Xangôs (nordeste oriental, especialmente Pernambuco);
Tambores (nordeste ocidental, especialmente São Luís do Maranhão);
Candomblés de caboclo (faixa litoral, desde Bahia a Maranhão);
Catimbós (Nordeste);
Batuques ou Parás (região meridional, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná);
Batuques e babaçuês (região septentrional, Amazonas, Pará y Maranhão);
Macumba (Rio de Janeiro y São Paulo).
Na verdade, o nome pelo qual preferiam chamar os praticantes deste tipo de culto era "Nação de òrìṣà", pois deste modo o diferenciavam de outros cultos Afro-Brasileiros com menos pureza ou que rendiam culto a “Nkisis, voduns, encantados, caboclos, etc”.
Tem-se investigado que aqui no Sul do Brasil, o contingente de escravos africanos que chegaram, pertencia principalmente a etnias Bantús, como Cabindas, Congos, Angolas, etc. Por isto, não podemos dizer que os cultos do tipo Nagô (Yorùbá) no SUL tenha tido sua origem durante a escravidão, como muitos alegam, pois parece ter sido introduzido desde o Nordeste Brasileiro (muito provavelmente de Pernambuco) por escravos libertos praticantes do Ṣàngó do Nordeste (NÀGÓ), que com adaptações a esta religião teria dado origem ao que hoje conhecemos como "BATUKE". Referente a esta hipótese, “Ari Pedro Oro”, nos dá uma referência exata sobre a primeira “Casa de Nação” no Estado do Rio Grande do Sul, mas supõe que o culto se instalou aqui mais ou menos uns 150 anos atrás, a fins do século XIX, onde os documentos da época indicam a entrada de uma grande concentração de “negros libertos”, principalmente Nordestinos. Contudo, devemos sinalar que os cultos de òrìṣà, estavam antigamente restringidos aos descendentes legítimos de escravos africanos, os quais se agrupavam por "Nações", buscando resgatar suas raízes culturais e ancestrais. Por isso, cremos que o culto de Nação, recém deve haver começado a difundir-se realmente a meados do século XX, dando entrada a pessoas que não pertenciam a família ancestral daqueles que praticavam una determinada “Nação”, tendo acesso agora de outros grupos raciais a este tipo de religiões.
Provavelmente nos anos 60 (segundo Prandi 1991) o Candomblé Baiano vem constituir seus primeiros filhos nas terras Paulistas. Como o “Candomblé” e o “Ṣàngó” são associados a pureza Nàgó em términos de matrizes míticas africanas, no Recife - talvez para que não existam confusões entre a diferença entre o “Nagô Bahiano”e o “Nagô Pernambucano ”- o término “Nàgó” é usado unicamente para o “Ṣàngó”, enquanto que para o modelo Baiano se usa a denominação de "Kandomblé de nação".
Porque trataria de diferenciar ambos cultos se supostamente os dois pertencem à etnia Nàgó?
Cremos que as diferenças entre o “Ṣàngó do nordeste” e o “Candomblé Baiano” provêm da relação que teve este último com suas raízes nàgó a fins de 1800 (Bahia-Lagos) o que trouxe como conseqüências que algumas cerimônias e rituais que haviam herdado dos escravos Nagôs na Bahia fossem modificados e re-ordenados de acordo com os rituais que se praticavam na Nigéria. Isto desde logo não ocorreu com o “Ṣàngó pernambucano”, que seguiu mantendo os rituais e cerimônias herdadas pelos escravos Nagôs, que diferencia entre o “Candomblé Baiano”e Ṣàngó pernambucano”o culto de Nação (que no sul se denominou "Batuque").
Por volta dos anos 60, devido a que muitos sacerdotes praticantes do “Ṣàngó pernambucano”, viram no Candomblé Baiano um tipo de variante “Nàgó” mais completa que a sua, decidiram por reiniciar-se neste. Muitos deles afirmam que o “Ṣàngó” é menos complexo a respeito dos rituais de iniciação que oferece o “Candomblé Baiano”. As diferenças entre o “Ṣàngó” o “Batuque” e os “Candomblés” tradicionais da Bahia e Rio de Janeiro, estende-se mais adiante como podemos ver no seguinte texto escrito por Luís Felipe Rios:
"De fato, em algumas casas tradicionais da Bahia ou Rio, os cenários que observam o comportamento das orientações sexuais, são mais rígidos que os dos terreiros de Ṣàngó. Em algumas casas está vetada a iniciação aos homens, o mesmo quando se faz, se lhes impede dançar, a menos que estejam incorporados - fato de não ser o caso nos Ṣàngó (nem batuque), onde os homens podem dançar na roda sem importar sua orientação sexual."
Vale aqui também tomar o caráter de identidade da resistência (Casttels, 1996; e também Bastide, 1986) dos terreiros, no princípio composto apenas por afro-descendentes e mais tarde, talvez como estratégia para reforçar dita resistência, teria afiliado as pessoas de outras categorias raciais e minorias sociais.
Brandão (1986) e Motta (1988) notaram que muitos dos sacerdotes que mantinham suas casas com base a modelos mesclados de culto, provinham daqueles que se encontravam aleijados do processo de câmbio em relação ao tradicional. Eram sacerdotes que faziam seus rituais públicos imitando o que viam nas casas de culto tracionais, mas estavam aleijados das matrizes simbólicas tradicionais. Para supri-las, re-inventavam "fundamentos"e assimilavam o que vinha de outros lados, porém adequando a realidade regional.
As diferenças entre o Candomblé Nàgó Baiano e outros cultos de Nação Nàgó, é visível a “olho nú” e notado a relação entre Bahia-Lagos, que fizeram com que rituais, cerimônias e algumas outras coisas haviam mantidas desde a escravidão na Bahia. Por isso podemos dizer que tanto o “Batuque” do Rio Grande do Sul, “Ṣàngó” de Pernambuco e o “Tambor Nàgó” no Maranhão, mantiveram a "Pureza Nàgó" que herdaram dos “ESCLAVOS NAGÔS”. Esta dita "PUREZA" é diferente da “PUREZA” do Candomblé Baiano, se temos em conta que ambas "PUREZAS" diferem em um ponto muito importante: “A ESCRAVIDÃO”. Os escravos Nagôs nunca perderam a memória de como fazer os rituais, nem tão pouco inventaram nada, a única coisa que fizeram foi preservar tudo o que puderam, dentro dos limites que oferece a escravidão: Não podiam “raspar-se”nem “cortar”os cabelos (isso indicaria ao Amo que estavam "fazendo pactos diabólicos"); Os Ẹbọ eram feitos com o que tinham a mão, aproveitavam as saídas às igrejas para apresentar os iniciados, etc. Por isso é claro, que se os primeiros fundadores de Casas do “Batuque” ou do “Ṣàngó” tiveram a chance de viajar e relacionar-se com as raízes Nagôs na África, hoje a história seria muito diferente. O processo de câmbio na estrutura cerimonial e ritual no Batuque (por exemplo) vem acontecendo de forma lenta pelas mãos de sacerdotes que optaram por deixar atrás "A ESCRAVIDÃO". Somente preservaram esse legado, as cerimônias resgatáveis e cultos de Òrìṣà, que hoje em dia não se encontram no Candomblé Baiano nem na própria Terra Mãe por haver se perdido com o passar dos tempos.
PRIMEIRAS CASAS DE RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA
Para rastrear a origem da Nação Djedje-Nàgó da qual provem o “Batuke”, ou pelo menos nos consta que és a Nação mais influente. Devemos descartar aquelas casas que foram fundadas APÓS A ESCRAVIDÃO e que possuem características tradicionais com rituais re-organizados graças ao contato direto com a terra mãe, como são as do Engenho Velho (Candomblé Ketú ou Candomblé Nàgó Baiano). O batuque não descende deles. Deve-se rastrear a Nação Djedje-Nàgó (combinação feita no Brasil) da qual provem o “Batuque” buscando òrìṣà que marcaram uma etapa nas terras Yorùbá: Ṣànpónná, pois se cultuava em algumas regiões do império de Oyo, que submetia várias tribos durante o período em que começaram a exportar escravos. Por isto se pode dizer que toda aquela “Casa de Nação Nàgó”ou “Yorùbá” onde não se cultue Ṣànpónná, sua tradição não provem da ÉPOCA ESCRAVISTA antiga, e sim veio de uma ÉPOCA POSTERIOR a desaparição do culto desta antiga deidade em terras Yorùbá , logo foram proibidos seu culto pelo Aláààfin de Oyó. Então podemos diferenciar no Brasil dois tipos de cultos “Nàgó” através de Ṣànpónná cujo nome até hoje em dia é tabú mencionar na África:
a) CULTO NÀGÓ: cuja tradição foi herdada pelos escravos, que perdeu muito em certos rituais, cerimônias e inclusive grande parte da sabedoria de Ifá, devido à mescla com outras nações e por limitações que oferecia a escravidão. Conhecem o culto a Ṣànpónná e outras divindades antigas.
b) CULTO NÀGÓ cuja tradição veio diretamente da Nigéria entre fins do século XVIII e princípios de XX, que encheu muitos espaços vazios e recuperou a sabedoria de Ifá, porém perdeu todo culto anterior que manteve o primeiro. Cultuam Obaluaiyé-Omolú em contraposição com o anterior.
A respeito da existência de Casas de Religião afro-brasileiras fundadas antes da abolição da escravidão, temos estes exemplos que atestam parte do que foi dito:
"No Maranhão, três casas construíram sua identidade tomando especialmente como referencia uma "NAÇÃO" africana: a Casa de “Mina-Djedje”, a “Casa de Nàgó” E a Casa “Fanti-Ashanti”. De acordo com a tradição oral, as duas primeiras foram fundadas antes do decreto da "Lei Aurea" (1888), que aboliu a escravidão no Brasil e teriam quase a mesma idade "...
c) NAÇÃO NÀGÓ-VODUN (Djedje Mahi-Nàgó)
Segundo Oliveira (1980, correio Umbandista N°31) "... O Nàgó-vodun veio para o Brasil com os Tios Ató e Aró, seus seguidores foram Tia Inês, Pai Adão, Claudino Bamboxé. Possuem Ifá e Ègún de Nação, o mais alto grau é o de Oluwó, seguido pelo de babalawo e logo o de babaloriṣá."
O avô de Oliveira foi o famoso “Bamboxé” (Djedje) Claudino Gomes de Almeida, que era Oluwó Beí e foi um dos que juntou o “Djedje” com o “Nàgó” para que não se extinguisse o “Djedje-Mahi”, filho legítimo de africanos e um dos mais famosos Pai de santo do Brasil.
Não há dados sobre as datas, mas muito provavelmente este tipo de culto tenha sido introduzido com posterioridade a “Abolição da escravidão”. É muito similar ao Candomblé Baiano, inclusive em sua estrutura, pois este culto também tem sua origem no contacto direto com a mãe terra (África), de acordo com DVD (Documentário “ O Mensageiro entre os dois mundos” com entrevista de Pierre Verger).
NAÇÃO NÀGÓ com TAPÁ e JEJE
"A Casa de Nàgó, foi fundada em 1815 por Josefa e Joana, ambas de sangue Yorùbá, estando situada na Rua das Crioulas, em São Luís de Maranhão (OLIVEIRA, 1980, p.67)"...
Ao ser fundada antes da abolição da escravidão, esta “Casa” é considera a MATRIZ de toda a Nação Nàgó existente que provem da época escravista. Se supõe que dali provem o “Ṣàngó pernambucano” e posteriormente deste nasceu o “BATUQUE”.
Nesta Casa se mesclou o culto dos òrìṣà Nàgó com alguns de origem Djedje do Dahomey e outros Tapá, a quem os Yorùbá chamavam também "Djedje"(estrangeiros), aparecendo assim a assimilação de “Xapanã Nupé” e seu irmão “Ṣàngó Tapá”, Ṣàngó Aganjú, Oya Tapá, Nanã Buruku, entre outros, com os respectivos assentamentos e entrega de cabeças para estes òrìṣà, que pelo lado “Nàgó puro”não se faz.
NAÇÃO DJEDJE (Fon do Dahomey)
Esta nação considera-se um dos cultos mais antigos no Brasil, pois a primeira casa de que se tem conhecimento foi fundada no ano 1796 por “NEAGOTINE”(Maria Jesuíta) Rainha do Dahomey, que veio de contrabando ao Brasil junto com três princesas e dois sacerdotes que chegaram livres ao “Maranhão”, sendo que “NEAGOTINE” logo voltou à África.
*Daqui provem o “Djedje puro” no Brasil, com culto aos VODÚNS.
A expansão do Batuque com o apogeu da Umbanda, que começou a estender-se como trilha de pólvora desde 1930, devido aceitação entre suas linhas a todo tipo de pessoas. Os praticantes de expressões mais tradicionais perceberam o perigo ao futuro de seus cultos, pois ao tratar-se das linhagens de “Nação” que aceitavam unicamente descendentes Afros, estes não cresciam em proporção ao número e estavam decaindo. Vendo o exemplo adotado pela “Umbanda”, que em muito pouco tempo se expandiu enormemente e construiu uma força representativa da religião Afro-Brasileira, a maioria das Casas de “Nação” começa afiliar também as pessoas que buscavam ajuda (geralmente com problemas de saúde). Daqui em diante o “Culto de Nação” deixou de ser um Culto de linhagem Familiar-Tribal e passou a ser um Culto de Linhagem Espiritual. Acredita-se que aproximadamente nos anos 30 aproximadamente começou a ingressar aos “Cultos de òrìṣà” o grande contingente de pessoas de outras raças não pertencentes à Africana, cuja finalidade estratégica era aumentar o número em quantidade, para que o culto ganhasse força, isto não foi bem visto pelos mais tradicionais que se mantiveram muito mais tempo sem afiliar "estranhos". Do mesmo modo alguns praticantes de “Nação” também optaram por praticar a Umbanda, já que era naquele momento atraia mais público por ser novo. Assim foi como pouco a pouco grande parte das Casas de Religião praticaram ambos rituais ao mesmo tempo, atraindo gente de toda classe social para o lado da Umbanda que oferecia caridade, falava de Jesus e não cobrava trabalhos espirituais, para logo iniciá-las pelo lado de Nação, onde se cobram os trabalhos realizados. Alguns Bàbálórìṣàs se aproveitaram desta situação para inventar uma espécie de regra que unia ambos rituais (Umbanda e Nação) que assegurava que primeiro se devia passar pela Umbanda para logo entrar na Nação, criando a famosa “Umbanda Cruzada”. Outros não entenderam que se tratava de RELIGIÕES DISTINTAS e mesclaram ambas. Nestes lugares o ritual de Nação se perdeu mais que em outros e sua visão era muito mais sincrética que as outras Casas.
O CONCEITO DE NAÇÃO
O seguinte escrito foi extraído de: “Prof. Vivaldo da Costa Lima” basicamente da “A Família de Santo nos Candomblés Jêje-Nagô da Bahia”: um estudo de relações intra-grupais, Salvador, Universidade Federal da Bahia, 1977. Do Livro: Nossos Ancestrais e o Terreiro, pág 33. "Os etnólogos falam de jêje-nagô" e justificam a expressão, ou pelo menos, explicam, mas o povo religioso reconhece diversamente esta situação de coexistência que, para eles, significa apenas outra “Nação de candomblé”, onde os elementos dos òrìṣà Nàgó se mesclaram e confundiram com os Voduns das crenças Djedjes. Porém as grandes casas chamadas “Djedje-Nàgó” em términos descritivos, se dizem, elas mesmas, ou apenas “Djedjes”, ou somente “Nàgó”. Exatamente como faziam os Candomblés tradicionais de “Angola-Congo” e como o terreiro MANÇO BANDUNQUENQUE, dos falecidos pais-de-santo BERNARDINO DO BATE-FOLHAS e BANDANGUAIME que diziam que trata-se, sabidamente, "uma casa de Angola". Esses terreiros mantém, contudo, a pesar dos mútuos empréstimos ostentosos e das influencias perceptíveis no ritual como na linguajem, os padrões mais característicos e distintivos das culturas formadoras, como uma espécie de arquétipo da perda total ontológica original. Esses padrões dominantes são como a linha mestra em processo multilinear da evolução, aceitando ou rejeitando inovações, adaptando-se as circunstância global; assimilando os empréstimos e adotando as invenções - mas retenção sempre a marca reveladora de sua origem, em meio da integração e o câmbio. Assim a falecida Iyaloriṣá ANINHA, pode afirmar, com orgulho: "Minha seita é nàgó puro". E dizia isto no sentido de que a nação de seu terreiro, que eram os padrões religiosos em que ela, desde criança, se formara, era Nàgó. Aqui se deve entender "nação de santo", "nação de candomblé". Porque, no caso de ANINHA, ela mesma era e sabia, etnicamente, descendente de africanos “Gruncis”, um povo que ainda hoje habita as savanas do norte de “Ghana” e ao sul do “Alto-Volta” e que nenhuma relação étnica ou histórica mantinha com os Yorùbá até o“tráfico negreiro". Do mesmo modo esta história aconteceu com muitos outros africanos oriundos das mais diversas nações que se iniciaram em algum tipo de “NAÇÃO” que não era a própria, o que em algum momento, de suas mortes pode haver aparecido confusões aos seguidores desta gente na hora de difundir a “NAÇAO DE SANTO” a que pertenciam, pois sabendo que seu Pai-de-santo era africano legítimo de "X” nação chegou a conclusão de que a nação que pertencia devia ser a mesma que a de seu pai-de-santo, quando na realidade estavam praticando a NAÇÃO NÀGÓ (por exemplo). Outra causa da aparição de nações mescladas foi o câmbio de nação de pai-de-santo, que iniciados em uma, passaram para outra, o que produziu uma nova mescla, pois seguiram mantendo sua primeira "nação espiritual" como base e somaram o aprendizado na nova nação. A respeito das nações com influencias duplas, sempre se encontrará uma que sobre-sai sobre a outra e que verdadeiramente tem mais força, no caso do “Batuque Djédjé-nàgó”, o brilho do òrìṣà Nàgó opaca o Vodún Djédjé, contudo, se continuam mantendo vários Voduns co-existindo com os òrìṣà, que embora transformados em caminhos de òrìṣà Nàgó, mantém grande parte de sua independência: Legba, Abe, Lôko, Lego, Sôbo, Badé, Azoano, Dan e Dambala Awedo - estes dois últimos com seus nomes um pouco deformados pela fonética portuguesa: Dã e Bambalawebo (ou também "Bambala") - todos mantém ainda alguns cantos que é feito durante a seqüência do òrìṣà Nàgó que foram assimilados e apesar de considerar-se "qualidades" de outro òrìṣà, seus assentamentos e rituais são bem distintos, existindo casos que inclusive "recebem" um animal distinto do oferecido habitualmente ao òrìṣà "tronco" que juntaram-se também, no momento de se dizer "NÀGÓ" devemos diferenciar entre a nação ou tribo propriamente dita e o uso de dito término para fazer referência a todo conjunto de nações ou tribos com um mesmo tronco idiomático: o anagó ou nàgó. Assim como também há que diferenciar entre "YORÙBÁ" quando se usa como sinônimo de qualquer tribo ou nação que fale dito idioma e “YORÙBÁ” quando se fala da nação propriamente dita, que é a de “OYÓ”. O “Batuque Nagô” puro “NÃO” existe, pois sempre está mesclado com Djéjé: Djédjé-Ijesa, Djédjé-Oyo; etc. E para generalizar, sem focalizar alguma tribo específica Nàgó ou Yorùbá, utiliza-se majoritariamente a denominação "djédjé-nàgó", que realmente tem muitas coisas “djédjé” que não se pode ser negligenciado. Isto nos leva a pensar que o “Batuque” já deve ter iniciado mesclado em sua origem, como o próprio Awíse Wande Abimbólá relata no livro (Ifá recomponha nosso mundo quebrado) onde diz:
“...antes mesmo da escravidão as tribos fronteiriças já se misturavam, cultuavam òrìṣà e Vodúns ao mesmo tempo, afinal, eram vizinhos, não existia fronteiras, se comunicavam...”
Recordamos que as "Casas de santo" mais antigas fundadas no Brasil são a “Djedje” e a “Nàgó”, as que sem dúvida deve ter influenciado e muito ao "povo de santo".
(Iniciação Nàgó sem raspar a cabeça)
DIFERENTES NAÇÕES NO BATUQUE DO RS
Existem algumas diferenças entre as distintas linhagens dentro do “Batuque”, que se denominam "LADOS", pois apesar do “Batuque” ser “Djédjé-Nàgó” de origem, no Brasil alguns líderes de linhagens foram influenciados por outras “nações” ou até mesmo eles mesmos pertenciam a outra etnia e adotaram o “Batuque” como seu culto. Isto deu origem a existência de "LADOS" de acordo com a influência aportada ao ritual “Djédjé-Nàgó” tais como:
· Jeje ou jeje-nàgó: rende culto a òrìṣà e alguns vodúns com rituais típicos dos Nàgó, é o verdadeiro “Batuque” ou “Nação de òrìṣà”.
- Ijexá (Ijèsá): praticam o “Batuque” Djédjé nomeado a princípio, porém com algumas influências “Ijexá” em seus rituais, por esta razão denomina-se Djédjé-Ijexá.
- Oyo: É o “Batuque” Djédjé com influências yorùbá e maiores homenagens a Ṣàngó em seus rituais, denomina-se Djédjé-Oyó.
· Cambina: Como era chamada antigamente, antes de tentarem associá-la a África, é o sub-grupo da “Nação Oyo” (cuja divindade principal é Ṣàngó) o seu nome é originário de "Kambi’nà" (Seguidores do caminho de Okambi, primeiro Rei de Oyó), por esse motivo, o lado de “Cambina” rende maiores homenagens à Ṣàngó, seus rituais tem como base o “Batuque” Djédjé (ou Djédjé-Nàgó). Conhecido também como "Cabinda" sendo esta uma deformação da palavra original “Kambi’na”, talvez também teria sido confundida com uma enclave de “Angola” com o mesmo nome, porém seria uma relação sem fundamento “antropológico” nem “histórico”, pois o culto de Ṣàngó e os demais òrìṣà provém das “Nações Yorùbá”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário