OQUE É ÒRÌSÀ?
(Ancestrais divinizados ou energias da natureza?)
Por: Mógbà Rudi Omo Sàngó
“...Após sua morte um homem pode tomar-se um Òrìsà para seus filhos, que passam a cultuar sua memória. O fundador de cada família, por exemplo, sempre se transforma num objeto de culto para seus descendentes. Alguns homens por seu valor pessoal, tomam-se Òrìsà cultuados por toda a nação. De heróis locais passam a heróis nacionais...”
Autor: Prof. Michael Adémola Adesoji
Como praticantes ativos do culto a Òrìsà, muitas vezes distorcemos o entendimento do conceito verdadeiro do que é um Òrìsà, e isto é lamentável, pois é um assunto que deveria estar muito bem esclarecido por parte dos adeptos, onde vemos muitas dúvidas por parte dos mesmos. O que é Òrìsà? Para responder a esta pergunta tivemos que pesquisar em fontes confiáveis da cultura Yorùbá, o que pra eles é muito claro, porque nascem e vivem essa cultura dia-a-dia. Para termos o entendimento desse assunto, primeiramente temos que deixar de lado crendices sem base na cultura tradicional e fazermos uma análise na estrutura do cosmo. Onde Olorun cria todos os Ìmólè e nisto estrutura-se o Orun.
ÌMÓLÈ
Podemos classificar esta expressão em dois grandes grupos: “Igbamólè” e “Ìrun-ìmólè”.
IGBA-ÌMÓLÈ- Seres Espirituais superiores que guiam todos os feitos por Olorun (Deus). Tem um status superior ao de “Òrìsà” e não lhes entregam cabeças nem tão pouco chega nas pessoas. Formam parte da energia incondicional do próprio “Olorun” manifestada nos distintos elementos e forças do cosmos. São os primeiros “Espíritos Superiores”, anteriores a existência do “Mundo Material (Àiyé)” tal como o conhecemos. Um período de câmbios ou “guerras” que estavam transformando o universo, onde foi necessário que existissem os primeiros “Ìmólè” para que se procedesse a Criação; ao final da mesma, estes “Ìmólè” se “adormeceram” e apareceram os “Ìrun-ìmólè” (Òkànlénírinwó Irúnmolè) que na realidade são os Òrìsà que vieram ao mundo e seguiram vivendo nele.
Os “Igbamólè” são os primeiros 200 deuses que saíram respectivamente da mão direita e esquerda de “Olodumaré”. Subdividem-se em: “Igba Irúnmólè Owokótún" ou "Ojúkótún", que são as 200 divindades da mão esquerda. E "Igba Irúnmólè Owokòsì" ou "Ojúkòsì" que são as 200 divindades da mão direita. Deste modo, se somarmos ambos grupos obtemos um total de 400 divindades superiores.
Os “Igbamólè” nunca vieram ao mundo, nem encarnaram como homens, e se mantém até os dias de hoje dentro da Câmara Celestial de Olódùmàrè, são os Òrìsà que lhe acompanham e formam o Conselho Divino.
IRÚN-ÌMÓLÈ – São os 400 Òrìsà criados por Olódùmàrè, que vieram ao mundo, guiados por “Ògún” (A Guerra). São considerados “Seres Superiores” que podem conviver no planeta Terra (àiyé) junto ao homem sem causar-lhe a extinção. Denomina-se realmente “Òkànlénírinwó Irúnmolè”. Estes Òrìsà são aqueles que lhes rendemos culto diretamente, e com quem nos comunicamos, a quem lhes fazemos homenagens, oferendas e quem se manifestam no “processo de transe”. Eles vivem no Aiyé junto com todos nós.
Junto com “Èsù” formam o número 400+1. Dependem de Èsù para comunicar-se com nós e para que tenha uma conexão entre eles, os “Igbamólè” e “Olódùmàrè”. Quando vieram ao mundo, o homem ainda não havia sido criado e cada um buscou um lugar onde refugiar-se dentro da natureza.
ÒRÌSÀ- Ancestral divinizado. Espírito que encarnou no mundo, onde viveu entre os homens e passou a história por haver realizado prodígios e outros feitos que valeram sua divinização através de rituais que o ligaram a algum “Imalé”. Todos os Òrìsà são visualizados como seres humanos e possuem uma origem terrestre: Èsù, por exemplo, é originário de Igbeti, o Òrìsà Oko descende da cidade de Irawo, Ògún vem da cidade de Ilá, Òsányìn da cidade de Èsìjé, Sàngó de Oyo, Òsun de Osogbo e assim por diante.
Há distintos tipos de Òrìsà:
Òrìsà Ìdílé - Aquele que é cultuado por una família dentro de seu lugar, Èsù Lóde, T’igbówà, Kámùkan, etc.
Òrìsà orí – Aquele que atua de guardião da cabeça de cada ser humano.
Òrìsà Ilú - O Òrìsà que é venerado por uma cidade inteira, Èsù Olojà (Bàrà do Mercado), Sàngó Ilú (Xangô do povo).
Òrìsà Inu - Aquele que representa o inconsciente de cada um, o "Eu" interno, representado por Ojijí (sombra).
Òrìsà Alágbàtorí- Provém de Oni agbá ti Orí (dono do ancestral da cabeça), é o Òrìsà que se manifesta na pessoa através da incorporação, diferente do que está assentado nos “Pejí” e também distinto ao Òrìsà como energia da natureza. O “Alágbátorí” é a energia de um ancestral espiritual fusionada com a da pessoa, que vem representar seu Òrìsà como espírito humano que se faz visível no transe.
A maioria dos cultos a Òrìsà são feitos nas comunidades locais, sendo muito poucos de importância nacional. Os Òrìsà locais são considerados heróis do grupo que os venera e são identificados por sua natureza, característica do território em que são cultuados. As classes principais dos objetos de culto são os rios e os montes. Um exemplo de monte cultuado em nível local é Oke Ibadan, cujas cerimônias se realizam atualmente na cidade de Ibadan, um dos maiores centros do país, situado ao norte de Lagos. No dia do culto, não se acendem fogos.
Existem Òrìsà cultuados em todo território Yorùbá e não apenas em cidades e aldeias que é o caso de Èsù, Òsányìn, Ògún, Òrunmílà, Obatàlá, entre outros. Muitas famílias veneram um Òrìsà particular, mas temos que deixar claro que uma pessoa pode cultuar mais de um Òrìsà, dentre eles os mais de 400 existentes, a própria “Ìwá Pèlé” (bom caráter) é um Òrìsà que foi esposa de Orunmílà, onde se não cultuarmos a mesma, corremos o risco de não viver a vida de maneira ordenada e correta. Os Òrìsà foram homens que vieram a terra para mostrar seu poder, força, àse para poderem ser lembrados, fato esse semelhante a Jesus de Nazaré. Após sua morte, poderão ser lembrados, oferendados, etc. Cultuar Òsun, não se rende homenagem ao rio que leva seu nome, mas a mulher que, um dia, transformou-se em Òrìsà. Cultuar Sàngó não resume-se apenas em invocar e venerar o raio ou o trovão e sim em honrá-lo pelo homem que fora, capaz de empregar esses recursos naturais, por ter sido grande Àlàáfin de Oyo.
A associação de alguns Òrìsà com algum elemento da natureza não se resume ao fato de que o crente venere essa energia e sim a memória deles enquanto homens que viveram no Àiyé (terra) em tempos remotos.
Exemplo disso são os Oba (reis) Yorùbás que após sua morte passam da etapa de Egún para Òrìsà, assim como ocorreu com Sàngó, Aganjú, Oya, etc. E assim como ocorrerá com o atual Oni de Ilè Ifè, a excelência Oba Okunadé Sijuwàdé que é o descendente direto de Odùduwà na terra. Outro exemplo claro dessa descendência é o atual Àlàáfin de Oyo a excelência Oba Lamidi Adeyemi. O cosmo Yorùbá é muito elástico pois é composto de 400+1 entidades benévolas do lado direito, onde esse +1 dá margem para que apareça ou reencarne novos Òrìsà. Não queremos entrar no mérito das interpretações errôneas de alguns autores que acabam por distorcer a cultura Yorùbá com suas bibliografias, mas que é de fato totalmente desacreditada pelo povo tradicional desta cultura.
Oni Okunadé Sijuwàdé
(Atual Oni Ilè-Ifè)
Oba Lamidi Olayiwola Adeyemi
(Atual Àlàáfin de Oyo)
Fontes
Prof. Michael Ademola Adesoji
Oyebade Kunle Oyerinde, the constitution of order among the Yoruba of Nigeria, Submitted to the Faculty of the University Graduate School, Indiana University, April 2006, UMI Number: 3210041.
Olupona, Jacob K. – Òrìsà Devotion (As World Religion)
Olu Daramola - Awo n Àsà àti Òrìsà Ile Yorùbá
J. Omosade Awolalu - Yoruba beliefs e sacrificial rites
Abimbólá, Wande – “Ifá will mend our broken world” – Thoughts on Yorùbá Religion and Culture in Africa and the Diaspora (By *Iroko Academic Publishers, 1997).
Mr. Cromwell Osamaro “A obra completa de Orúnmìlá a sabedoria divina”
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