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quarta-feira, 18 de maio de 2011

AGANJÚ "EXPRESSÃO DURA AO GOVERNAR"

AGANJÚ
 “EXPRESSÃO DURA AO GOVERNAR”

AGANJÚ
 Expressão dura ao governar


Mógbà Rudi Omo Sàngó
Julho 2011




O presente trabalho visa tornar mais acessível aos adeptos da cultura Yorùbá no Brasil e no mundo, parte de um capítulo do livro “The History of the Yorubas” do escritor Rev. Samuel Johnson (Second period. - The period of growth and prosperity and oppression - chapter II - Historical kings), onde o mesmo descreve parte do reinado do grande Imperador Aganjú, sucessor do trono de Dàda Àjàká em Òyó.
Pág. 155
[...] Logo que Dàda Àjàká retoma o trono em Òyó pela segunda vez, já que Sàngó não oferecia mais resistência por ter deixado o trono. Traz um longo período de paz e prosperidade no reino, o sucessor ao trono é Aganjú, o filho de Àjàká, quem se transforma no quinto Alafin de Òyó e no diretor do sexto reinado em Òyó, pois Àjàká havia sido rei em duas oportunidades.
O reinado de Aganjú foi longo e próspero. Ele tinha o dom de domar os animais selvagens e serpentes venenosas. Podia ver várias delas arrastando-se pelo seu corpo sem fazer mal algum. Dentro de sua casa ele tinha um leopardo dócil, onde se podia ver Aganjú encostar seus pés no animal como se fosse uma esteira, onde demonstrava seu poder e virilidade.
Embelezou todo palácio agregando praças na parte dos fundos, e na frente do mesmo ornamentou postes esculpidos em bronze, assim originando o costume de enfeitar o palácio com adornos de acordo com ocasião festiva, sendo um soberano de gostos muito refinados.
Ao fim de seu reinado, Aganjú empreendeu uma guerra contra outro chefe cujo nome era igual ao seu: Aganjú, ou Onisambo, por ter negado aceitar a mão de sua filha Iyayún. Nesta guerra, o Onísambo e seus três aliados: Onitede, Onimeri e Alagbòna, foram capturados e suas cidades destruídas, ficando a noiva fortemente resguardada.
O final de seu reinado esteve marcado por grandes problemas familiares. Seu único filho Lubègo, foi descoberto tendo relações ilícitas e incestuosas com sua irmã Iyayun, o que considerava uma afronta a criação, como segue nos dias de hoje. Aganjú enfureceu-se mais além das palavras, aplicando-lhe a pena mais alta que indicava a lei e foi rigidamente levada ao pé da letra. O rei decretou sentença de morte a seu filho e morreu pouco tempo depois, por tristeza. Não deixando nenhum herdeiro ao trono e nenhum nascimento encaminhado de seu sucessor.
O nome de seu Basorun era Banija conhecido publicamente como Erankogbina. diante a morte do rei, sem descendência para ocupar o trono, quem cuidou do cargo e dos assuntos do reino foi Erankogbina, sendo a única esperança um filho de Iyayun em seu ventre (neto de Aganjú), quem seria o herdeiro a assumir o trono de Òyó. Foram realizados freqüentes sacrifícios sobre a tumba de Aganjú, enterrado em frente ao palácio, pedindo descendência e suplicando que Iyayun, sua filha, viesse dar a luz de um filho homem, que desse modo, seu nome não terminariam ali e seria lembrado. Quando Iyayun ficou grávida, todos rezavam longas horas para que Aganjú abençoasse aquela gestação. Ao final de seu período gestacional Iyayun deu a luz uma criança do sexo masculino. O povo se encheu de glória e comemoraram festejando durante vários dias. O menino foi chamado Kori.
Durante a infância de Kori, Iyayun foi nomeada Rainha e seu mandato duraria até que Kori tivesse maior idade e maturidade suficiente para governar. Iyayun usou a coroa, e colocou as vestes reais, e foi vestida com o Ejigba, Ileke, Opa Ileke e outras insígnias reais, e governou
o reino como um homem até que seu filho tivesse idade. Foi durante este reinado que Timi foi enviado para Ede
[...] (A tradução é nossa).
Pouco tempo depois, Aganjú se transformava em motivo de adoração e culto, governando do Òrun (céu), ajudando o Egbé (Comunidade). Logo após receber inúmeros sacrifícios e oferendas, passou a ser considerado como Òrìsà por ter sido um personagem histórico que viveu e morreu, considerava-se que sua etapa como Eégun tão pouco foi lembrada, por ter sido rei de Òyó, onde o Alàáfin passa a ser cultuado como Òrìsà, assim como ocorreu e ocorrerá com os demais reis Yorùbá.
Como Òrìsà, Aganjú recebeu o nome de Òrìsà Ekùn (leopardo), sendo esse nome mais conhecido como divindade em território Yorùbá, pois era muito valente, forte e causava temor, tal como o leopardo, animal que gostava de ter em sua própria casa como emblema de coragem. Seu culto é realizado independente ao de Sàngó, sacrificando bodes castrados, pombos, galos, entre outros animais. Seu ota (pedra) não tem a mesma forma que o de Sàngó, suas ferramentas são distintas e se colocam em seu assentamento uma garra, dente ou pedaço de couro de leopardo.

Breve descrição do comportamento de Aganjú em seus omo (filhos) observado em uma localidade de Ekiti.
Segundo um informante quando ele chega ao mundo em seus filhos, tem movimentos ágeis, elegantes e suntuosos como o leopardo, é alegre, canta e dança com as crianças. Possui caráter guerreiro e jovem, sendo assim, gosta de diversão, de festas, boas comidas e dos tambores. Dá saltos e grita quando consegue algum presente ou ganha alguma coisa por parte da assistência. Coloca-se uma tira de tecido vermelho atado em sua cabeça.
Aganjú é o Òrìsà patrono das regiões selvagens como o leopardo. Segundo Wándé Abímbó[1]
(1997, pág. 35) o nome Aganjú significa “Cara Dura”, ou seja, alguém com “expressão dura ao governar”. Alguns associam o mesmo com o vulcão, algo que discordamos, pois não existem vulcões na África, outros estão convictos que Aganjú se escreve Agonjú, fato este existente apenas em literaturas Brasileiras e que desconhecemos nas demais literaturas tradicionais Yorùbá. Segue parte do livro de uma versão em espanhol de Abímbó, para melhor entendimento do assunto abordado.

Pág. 95
[...] Ivor: O que mais aprendeu ao escutar as gravações de Cabrera?

Wande: O nome de Aganjú que é um Òrìsà de Òyó. As pessoas sempre se perguntam qual é a etimologia do nome Aganjú, e na gravação os cantores cantavam em homenagem a Aganjúso, que é o nome completo. “Gan” significa “cara dura” alguém que quando esteve no reinando sempre tinha uma “expressão dura”. Olá” significa alguém que desfruta de uma vida nobre, ou de status. Sendo assim, possivelmente quando estava no governo, ou em uma posição que demonstrava seu status.

Ivor: Em Cuba, Aganjú é o Santo Patrono das Savanas. Está associado como o pai de Sàngó e também como o Òrìsà dos vulcões e dos terremotos. Dizem que Sàngó é o fogo e Aganjú é a larva de baixo da terra. É raro em Havana (porém mais comum em Matança), que uma pessoa seja iniciada ou coroada com Aganjú, se diz que essa pessoa é como um vulcão, Aganjú, é muito forte para por na cabeça. Sendo assim, a consagração se faz sobre os ombros e usam a Sàngó ou Òsun, como intermediários. Este ritual é chamado “Aganjú com Oro Sàngó” ou “Aganjú com Oro Òsun”.

Wande: Em Terras Yorùbá não temos vulcões. Aganjú foi um Aláàfin de Òyó. Àjàká foi o irmão mais velho de Sàngó, também conhecido como Dàda ou Àjùwòn. Aganjú gobernava como Aláàfin de Òyó após o governo de Àjàká. Todos eram descendentes de Òrànmíyàn[...] (A tradução é nossa)

Conclusão
Com o estudo das informações podemos entender um pouco mais sobre esse Òrìsà, pois muitas informações a respeito do mesmo são escritas em diversos trabalhos, onde na verdade sempre acabam distorcendo as informações, bem como, monopolizando as informações sem citar fontes concretas e plausíveis para o entendimento deste Òrìsà. Esse monopólio de informações acaba dilacerando a história e também a apresentação dos fatos concretos e com base tradicional Yorùbá.


Fontes Bibliográficas

ABIMBOLÁ, Wándé, Ifá will mend our broken worldThoughts on Yorùbá Religion and Culture in Africa and the Diaspora, Ifé, Iroko Academic Publishers, 1997.

ABRAHAM, R. C.  Dictionary of Yoruba Modern, London, 1962.

BOWEN, Rev. T. J., Grammar and Dictionary of the Yoruba Language: With an Introductory Description of the Country and People of Yoruba, Interior of Africa, 1879-1856.

JONHSON, Rev. Samuel, The History of the Yorubas - From the Earliest Times to the Beginning of the British Protectorate, Lagos, 1921-1960.

VERGER, Pierre, Orixás (Deuses Iorubás na África e no novo mundo), Editora Corrupio, São Paulo, 1993.


[1] Wándé Abímbólá foi eleito por todos Bàbáláwo Yorùbá mais antigos com o título “Àwíse Àgbàiyé” Porta voz mundial da cultura Yorùbá no mundo.


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