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quinta-feira, 16 de junho de 2011

A BOA CONDUTA AFRICANISTA

A BOA CONDUTA AFRICANISTA

Texto de: Bàbá Osvaldo Omotobàtálá
Traduzido por: Mógbà Rudi Omo Sàngó



"...Aqueles que dizem efuru por esuru
bom, nosso Pai está olhando lá de cima (céu),
Aqueles que dizem odide por oode, (que o papagaio és o morcego)
bom, nosso Pai está olhando lá de cima (céu),
Aqueles que dizem que a folha de oro és a de oriro,
bom, nosso Pai está olhando lá de cima (céu)..."


Sobre os mentirosos, o odù Otura diz:

"Ser mentiroso não priva alguém de fazer-se rico,
Romper um contrato não priva alguém de ter uma idade avançada;
Porém o dia que morrer, aí terá problemas."



 Na religião tradicional Yorùbá sabe-se que muitas coisas devem pagar-se depois da morte, por isso se tem muito cuidado em não cometer faltas, os Òrìsà(s) não apoiam os mentirosos, os ladrões, injustos, degenerados, adúlteros, assassinos, etc. Os Òrìsà(s) mandam sempre a seus seguidores a dizer a verdade, incluso nos próprios odù(s) a maioria das vezes se trata de deixar claro que aquele que engana, rouba ou comete faltas sempre sai prejudicado, és castigado ou termina na ruína.


Em outra parte do odù Oturupon diz assim:

"...Seja sincero, mesmo que sozinho,
Seja verdadeiro, faça o bem!
Aquele que és verdadeiro, as divindades o apoiaram,
Diga a verdade, mesmo que sozinho..."


O roubo é visto como um ato vergonhoso, algo que ninguém deveria se gloriar. Ter um ladrão dentro da comunidade se considera uma desgraça. Quando há roubos, se realizam rituais para saber quem foi o ladrão e recuperar os objetos roubados. O ladrão, a conseqüência do poder divino, sofre em pouco tempo todo tipo de enfermidades, paralisias, cegueiras momentâneas, sofrendo todos danos em forma física e psíquicas, a tal ponto que deverá recorrer a um sacerdote africanista para que retire o mal. Quando o bàbálawo vê que o mal do paciente é devido a roubos, é indica que deve devolver os objetos ao dono em praça pública, diante de todos e além disso, pagar certas oferendas aos Òrìsà(s). O roubo acaba com a reputação e integridade da família do ladrão, sendo que os africanos tradicionais se preocupam muito pelo seu nome e reputação. O furto não só é considerado algo imoral, também é uma ofensa religiosa castigável por parte do Todo poderoso.
Os sacerdotes africanistas, os chefes (de bairros, cidades, etc.) e os reis tem poderes político-religiosos e são quem aplicam as leis, a justiça e os castigos das faltas dentro da comunidade. Os Hierárquicas e sacerdotes são respeitados como se respeita a um Òrìsà, pois se consideram "maiores" e portadores de sabedoria dos Ancestrais. Em quanto a falta de respeito aos "maiores" (planos religioso-político e idade) e aos pais, aquele que comete dito crime, insultando aos mesmos, insulta também aos Ancestrais e Òrìsà(s), atraindo para si o castigo dos mesmos. Se bem, a insolência se perdoa, se considera um ato definitivo. Os Pais (ancestrais) devem ser venerados e determinado momento "render-lhes culto", pois és a vontade de Olórun (Deus) que se venere aquém nos veneram e em qualquer sociedade onde não se venere aos Pais, pois assim se terá as benções do Todo poderoso.


Iwori disse:

"...Respeite seu Pai e sua Mãe
esses que viveram longo tempo na terra,
Ifá diz: que oferte a seu Pai e a sua Mãe
o sacrifício de cuidados, retidão e humildade,
pois isso lhe trará retribuições.
Ifá diz: que oferendando esse sacrifício e sendo obediente
não atrairá maldições.
As maldições de seu Pai e de sua Mãe
são as maldições do Onipotente..."


Em outra parte do mesmo Odù diz:


"Meus Pais não trabalharam em vão por mim.
Nasci porque a sorte de minha mãe era boa,
nasci porque a sorte de meu pai era boa.
Me deram a luz e meus braços não eram deformes,
não nasci enfermo,
não nasci leproso.
Ancio poder ter meus próprios filhos,
de maneira que possa ter descendentes.
Quero ter casas,
quero ter bens materiais,
quero ter dinheiro.
Meus pais não trabalharam em vão por mim.
Vim ao mundo devido a sua boa sorte,
Quero fazer algo bom da minha vida,
Para que o trabalho de meus pais não tenha sido em vão..."

Por outro lado no Odù Iwori-meji explica que todo aquele que respeite a seus Pais e Ancestrais (Ègúngún) em qualquer tarefa na que faça terá êxito. No Odù Obara-meji se condena a arrogância, o orgulho e as faltas de respeito dos jovens para com os anciãos, as quais são sentenciadas, dizendo que todos aqueles que não respeitam seus maiores não terão uma vida longa e aquele que golpeia seus pais, sacerdotes ou um ancião está atraindo sua própria morte. O governo africano é teocrático de modo que os governantes são vistos como representantes divinos. Toda falta de respeito, deboche ou rebeldia aos mesmos está proibido. Em quanto a lealdade absoluta e obediência ao governo.



no Odù Ejiogbe diz:

"...A Coroa deve ser julgada pela cabeça que usa Coroa.
Os lábios do filósofo são aqueles que devem desafiar ao filósofo..."
Um chapéu nunca será mais famoso que uma Coroa.
Aquele que guia o Corpo és a Cabeça..."

quem decide qual será seu objetivo primordial na nova vida que terá (destino). Utilizando as diferentes energias do Universo, podemos mais facilmente chegar a esse objetivo final pré definido por nós mesmos, isto és viver a vida equilibrada, com saúde, bem estar e felicidade.

O ser humano está formado fundamentalmente por três elementos: Emí (espírito), Orí (cabeça) e Ará (corpo). O Emí e o Orí convivem dentro do Ará separados, Orí é aquele que tem a aprendizagem e a sabedoria de outras encarnações, que se mantém fechado na consciência da pessoa até sua morte.

O Emí é aquele que nos permite o diálogo interno, aquele que armazena memórias desta encarnação e que da um passo paralelo em nossa consciência quando incorporamos ou montamos o Òrìsà, saindo do Ará.

Quando morremos, Emí e Orí se unem-se deixam o Ará que se transformará em Okú o corpo morto e ambos sendo uma só energia esperarão o destino que lhes depara, se voltarão ao Àiyé (terra) convertido em Ègún e esperar a Atùnwá (reencarnação), ou se lhes concede o Aragbá Orún (no caminho ao Orún), para posteriormente chegar ao estado de Ará Orún (habitante do Orún) junto aos Òrìsà(s). Este estado solo se alcança ao longo de várias reencarnações, até o final Emí alcança um estado suficientemente puro para converter-se em Ará Orún.

Todos os habitantes do Àiyé, de acordo com seu comportamento em sua jornada pela vida podem ser considerados como omoluabí ou ajogun. Aqueles que transgrediram as leis e tiveram um comportamento indigno durante sua vida, convertem- se em ajogun ou espíritos escuros, entre os quais podemos citar:



O Yorùbá tão pouco está de acordo com sentimentos como a avareza o egoísmo, pois Ifá diz: que todos vamos receber aquilo que damos, por isto, quanto mais mão aberta somos, mais receberemos. A chave é oferecer sem esperar nada em troca. Se ensina que se deve pagar sempre aos Antepassados e Òrìsà(s) para conservar a sabedoria, a sorte e os bens materiais; assim como também a ser contemplativo com o irmão mais necessitado e pobre, dando-lhe ajuda se for necessário.



Obara-meji diz:

"A mosca que não são gananciosas, nunca morrem em um recipiente de vinho.
A mosca que voa com as demais no ar
e não se atenta com os sebos que estão no chão.
Nunca são caçadas em uma armadilha."

 Outra coisa a ter em conta, é que somos proibidos maltratar ou castigar os animais, assim como tão pouco devemos matar animais por prazer ou esporte. O sacrifício de animais deve ser feito somente quando os Òrìsà(s) o pedem ou quando necessitarmos consumir carne, sempre consultando o oráculo, sendo que ditos sacrifícios devem ser efetuados por pessoas preparadas ritualmente. Consideramos que os animais possuem Àse dos Òrìsà(s) (que em conjunto representam Olórun) e se machucarmos algum animal, estará atraindo um Osogbo (poder negativo) para nós mesmos.


Ewi e Cerimônias

Em nossa tradição, se conhecem como “ewi” os louvores proverbiais tradicionais que se executam nos momentos especiais, tais como batismos, casamentos ou cerimônias fúnebres. Com ewi se da bem vinda a um novo filho dentro da família, no momento de dar-lhe um nome, o qual quase sempre é escolhido através do oráculo ou as vezes pode vir com o filho desde o orún (céu), com marcas que ditam qual deve ser o nome. Também com ewi (versos poéticos cerimoniais) se celebram os casamentos diante dos Òrìsà(s) e dos ancestrais, sendo que o casamento não só representa a união entre o homem e a mulher, sendo também a união de suas duas famílias e de seus ancestrais, por isso és de vital que os mesmos estejam de acordo. Para tal fim és consultado o oráculo e são feitos os ebo(s) correspondentes. Outro tipo de Ewi é usado para dar despedida a quem falece, devendo aqui também dar-se primazia ao que deseja o defunto, seus Òrìsà(s) e ancestrais, quem indicarão como desejam que se faça a cerimônia.
Em todas estas cerimônias sócio-religiosas nunca faltam elementos simbólicos típicos de nossa cultura como Nozes de Kola, Azeite de Palma, Efun, Mel, Gengibre e Vinho de Palma, entre outros. Há sempre uma comunhão entre os assistentes e no mundo, onde moram os Ancestrais e os Òrìsà(s). Em uma mesa (toalha que se coloca sobre uma esteira) se colocam os ingredientes simbólicos de nossa cultura, que recordam muitos de nossos mitos e tradições, junto com uma grande variedade de alimentos, bebidas refrescantes e flores.

A teologia Yorùbá radica fundamentalmente em um Deus único, o qual criou tudo o que existe. Dele partiram diferentes energias, que se encarregam de cada detalhe do Universo, estas são denominadas “Irunmole” e “Òrìsà(s)”.

Na teologia Yorùbá, primeiro, antes de alguém nascer já é decidido que vai acontecer em sua vida, isto ocorre através do Orí (cabeça)



Ikú: A morte (masculino). Rei dos ajogun.
Arun: A enfermidade (esposa de Ikú).
Ofo: A avareza.
Epe: O ódio.
Ewon: O egoísmo.
Ofun: O abandono.
Egba: A preguiça, a solidão.

Os omoluabi são os Ègún que foram dignos em sua vida, porém que de qualquer maneira cometeram alguma pequena falta, são considerados espíritos bondosos e podem ser parte dos ancestrais adorados pela família.




Um comentário:

  1. Àse,

    Orí é um tema profundo, e um terreno de estudo muito perigoso, pois a sua tradução apenas por "cabeça", gera conceitos distorcidos como o do parágrafo abaixo.

    "...O ser humano está formado fundamentalmente por três elementos: Emí (espírito), Orí (cabeça) e Ará (corpo). O Emí e o Orí convivem dentro do Ará separado ..."

    Neste parágrafo, claramente o autor refere-se a algo transcendental ao ser humano, uma vez que ara e èmí já trazem em si, respectivamente, as cabeças física e espiritual, propriamente dita.

    Portanto Orí, no contexto do parágrafo citado,tem o sentido do "destino", conforme defendido por Abimbola.

    Àse

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