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terça-feira, 14 de junho de 2011

Batuque Afro-Sul e o Candomblé da Bahia

Batuque Afro-Sul e o Candomblé da Bahia


Por: Mógbà Rudi Omo Sàngó
Junho\2011

O presente trabalho é uma tentativa de mostrar as diferenças entre o Candomblé Baiano e o Batuque Afro-Sul, onde não tem a intenção de diminuir nenhum dos cultos, mas sim dar o entendimento aqueles que tentam buscar bases tanto históricas como antropológicas na Bahia, onde se originou o Candomblé.  É fato que muitos adeptos do Batuque Afro-Sul tentam buscar bases em seus rituais no Candomblé e às vezes acabam até mesmo migrando para este culto, que também tem como base os Òrìsà, por acreditar ele ser mais primitivo que o nosso Batuque-Afrosul.  Na “minha” opinião isto se dá pelo fato de que o Candomblé foi um dos poucos em solo Brasileiro que tentou resgatar seus rituais, isto visível e presente no DVD “O mensageiro entre os dois mundos” onde o tema principal era retratar as viagens de Pierre Verger¹ na África, explicando locais por onde passou quando efetuava pesquisas para reestruturar o Candomblé. A tentativa de Verger era muito clara, pois serviu de ponte entre a “África” e o “Candomblé”, pesquisando e achando bases para o mesmo. Verger desempenhou muito bem esse papel, uma vez que Mãe Senhora², Ìyálorìsà daquela época que o iniciou pouco tempo antes de sua primeira viagem. A intenção de Verger era esplendorosa, mas seu foco era o Candomblé, mais precisamente o de origem Ketu³ e Oyo.

Para se entender o presente trabalho, temos que ter o entendimento correto da cultura e religião Yorùbá e suas localidades:

... O Yorùbá é o segundo maior grupo étnico na Nigéria, incluindo 18 por cento da população total aproximadamente. Eles vivem em grande parte no sudoeste do país; também há comunidades de Yorùbá significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil. O Yorùbá é o grupo étnico principal nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ondo, Òsun, e Oyo. Um número considerável de Yorùbá vive na República do Benin, ainda podem ser encontradas pequenas comunidades no campo, em Togo, Ouemé, Serra Leoa, etc. A maioria das pessoas Yorùbá são cristãos, com Igrejas da Nigéria (Anglicana), Católica, Pentecostal, Metodista, e igrejas Indígenas de que são adeptos. O Islã inclui aproximadamente um quarto da população Yorùbá, com a tradicional religião Yorùbá respondendo pelo resto. Os Yorùbá têm uma história urbana que data de 500 D.C. As principais cidades Yorùbá são Lagos, Ibadan, Abeokuta, Akure, Ilorin, Ogbomoso, Ondo, Ota, Shagamu, Iseyin, Osogbo, Ilesha, Oyo e Ilé-Ifè. Pesquisas: Segundo diversos pesquisadores o termo yoruba é recente. Segundo Biobaku, aplica-se a um grupo linguístico de vários milhões de indivíduos. Ele acrescenta que, "além da língua comum, os yorùbá estão unidos por uma mesma cultura e tradições de sua origem comum, na cidade de Ifé... (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre).

Nota¹ - Pierre Verger - Nasceu em Paris, no dia quatro de novembro de 1902, mais tarde tornou-se fotógrafo e quando descobriu o candomblé, acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Foi na África que Verger viveu o seu renascimento, recebendo o nome de Fatumbi, "nascido de novo graças ao Ifá", em 1953. A intimidade com a religião, que tinha começado na Bahia, facilitou o seu contato com sacerdotes, autoridades e acabou sendo iniciado como babalaô - um adivinho através do jogo do Ifá, com acesso às tradições orais dos iorubás. Além da iniciação religiosa, Verger começou nessa mesma época um novo ofício, o de pesquisador.

Nota² - Mãe Senhora - Maria Bibiana do Espírito Santo, Oxum Muiwà, (Salvador, 31 de março de 1890 - Salvador, 22 de fevereiro de 1967) foi à terceira Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, Bahia.

Nota³ - Ketu - é um local histórico, em nossos dias República do Benim. É uma das mais antigas capitais do povo de língua Yoruba, o rastreio mitológico de sua criação é uma solução fundada por uma filha de Oduduwa. Os regentes da cidade eram tradicionalmente chamados "Alaketu", e se acredita estar relacionado com o sub-grupo Egba dos falantes de língua Yorùbá na Nigéria nos dias de hoje.


É sábido por todos que Verger pesquisou com o propósito de dar entendimento do Candomblé no qual era iniciado, e com certeza fez um excelente trabalho de resgate cultural e religioso, mas temos que deixar claro que o Batuque-Afrosul "não tem origem na região pesquisa por Verger", pois o mesmo não apenas pesquisou, tomou nota, como também fotografou todos rituais que teve acesso, vindo a efetuar um de seus maiores trabalhos, seu livro "“Orixás – Deuses Iorubás na África e no novo mundo”, editado pela Editora Corrupio. Este livro tinha o propósito de dar entendimento aos rituais do Candomblé, mostrando fotos de iniciações tanto na África quanto no Brasil (Bahia). Verge fez um belo trabalho, mas ao não fotografar inicações de origem Nàgó4 (Figura 01) acabou transparecendo que era via de regra a raspagem da cabeça, gerando descontentamento por parte de muitos adeptos do Batuque Sulino, pois acreditavam que era obrigatório raspar a cabeça na África, o que na verdade nem sempre se raspam em regiões Yorùbá, mais precisamente entre Benin e Nigéria (figura 02). Em determinadas regiões Nàgó não é necessário raspar a cabeça para efetuar iniciação, pois este procedimento pode ser até mesmo um tabu por parte do iniciado. Aqui no Batuque não se manteve essa tradição de se raspar, pois o mesmo utiliza um assentamento do Òrìsà Orí (mantegueira). O Candomblé na realidade foi reestruturado de acordo com o resgate efetuado por Verger. O Batuque ao mesmo tempo não teve esse resgate, mas hoje com ajuda da tecnologia podemos ter acesso a pessoas que vivem a cultura Yorùbá nos dias atuais, podendo ser resgatado sua origem. Temos o Aworìsà e escritor Obalufon Osvaldo Omotobàtálá que efetuou pesquisas mais em territórios do Benin e explicou muito bem por sua parte questões referente ao Batuque. Vemos no Candomblé algumas diferenças bastante significativas também nos rituais fúnebres e ou de Egún, onde diz não poder ser tocado às roupas de um Egún, fato esse diferente do visto em território Africano (fig. 03).
O Batuque sem buscar reestruturar seu culto, acabou por preservar grande parte dos rituais, uma vez que não muito praticado pelo Candomblé, Nos quais cito alguns:

Mesa de Ìbejí e também culto aos gêmeos sagrados em estatuetas;
Culto Òrìsà Oba;
Culto Òrìsà Otin
Culto Òrìsà Ode em sua representação de diversos caçadores e não apenas em Òsóosí (Oxossi), entre outros;
Culto Òrìsà Jobokun, Dakun, Bokun, etc;.
Culto Òrìsà Oya T’igbówà
Assentamento de Oya em panela de barro, tal como na África
Vassoura para npònnó (Xapanã) em vez do Sàsàrà (Xaxará) do Candomblé
‘Padé fún Èsù
Orí wè, Omioro (Lavagem de cabeça)
Oríbíbó (Alimentar a cabeça)
ÌBòrí (Oferenda a cabeça)
Jókòó ‘Sà / Karíòsà (Assentamento de òrìsà / Obrigação de quatro patas)
Gígun Èsù (Assentamento de Èsù no terreno)
Ojubo (Assentamento de òrìsà no terreno)
Ojubo Balè (Assentamento no terreno para Ègún)
Ìlù yà sótó (Consagração do tambor / Cruzamento de tambor)
Alábè yà sótó (Consagração do dono das súplicas / Cruzamento como tamboreiro)
Adé Oro (Coroa espiritual / Balança)
Ajere / Izo (Mostrar a força / Fogo / Prova de fogo)
Àsogún (Poder de Ògún / axé de faca)
Àsedínlógún (Autoridade para ler o oráculo / axé de búzios )
Àsewí (Poder para falar / axé de fala)
Arisùn – Ritual fúnebre

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Nota4 - Nàgó - Nagô não é uma Nação Africana e sim todo os povos Sudaneses que falam o idioma Yorùbá. Com os povos africanos, vieram também os cultos religiosos de cada região de sua origem, e, que devido aos empórios de escravos e a mistura destes, e também de rituais, originaram as chamadas religiões, hoje, chamadas por muitos de afro-brasileiras.


Como podemos ver, o Batuque existe rituais muito primitivos também, mas que infelizmente não foram sido resgatados em sua origem, muitos dos nossos rituais nem são mais praticados em solo Africano, devido ao esquecimento do passar dos tempos. Hoje tenho acompanhado muitos adeptos do Batuque que para achar bases na nossa cultura vão de encontro ao Candomblé, para achar explicações que na verdade só trarão confusões ritualísticas por parte dos demais adeptos. Alguns procuram vincular nossa sineta, tendo como origem a católica e até mesmo em um instrumento usado por adoradores de Ògún em território Yorùbá. A origem de nossa sineta conota-se no período chamado de Nokcomo poderemos ver na (fig. 04) no final deste.  Já vi procurarem bases também para ter o resgate de nosso Aje (cabaça com adorno de contas fig. 05) com o Sèré (cabaça sem adorno de contas que pertence a Sàngó - fig. 06) do Candomblé.
Pierre Verger ao fotografar regiões Yorùbá de Oyo mostrou alguns Òrìsà ornamentados com suas vestimentas locais, dando origem ao fato de vestir os Òrìsà na Bahia, sendo que no Batuque não se manteve esse padrão, pois em determinadas regiões Yorùbá não se vestem Òrìsà, permanecendo sua roupa normal do iniciado (fig. 07 e 08). No Candomblé foi associado ao Òrìsà Ògún o animal “cão e ou cachorro”, devido às fotos de sacrifícios do mesmo no livro de Verger, já no Batuque prevaleceu a “Serpente”, fato esse que até muito pouco tempo não se tinha o entendimento, mas que foi perfeitamente explicado, pesquisado e escrito pelo amigo Erick Wolff em seu blog:


Hoje em dia é muito comum se escutar em resgates da cultura do Batuque, mas temos que ter em mente onde pesquisaremos, para não acabarmos por desestruturar uma religião utilizando-se de conceitos evasivos e pesquisas numa religião que não é a nossa. Vejo diversos movimentos sendo criados para esse fim e estes estão totalmente vinculados ao Candomblé Baiano. Tomaremos o cuidado para não criar uma grande confusão histórica e ritualística, pois o autor deste, não tem a intenção de desmerecer nenhuma das duas religiões, mas sim, colocar cada uma em seu devido lugar e origem. São duas magníficas religiões, tendo como princípio a “Mãe África”.  Escuta-se muito aqui pelo sul em resgate das nossas ditas “Nações” de origem, de que o Batuque foi estruturado aqui após a escravidão, fato este que é totalmente descartado nos dias de Hoje. Acreditando que cada Òrìsà  é cultuado apenas por uma região da África. Não se pode cultuar apenas um Òrìsà sem a presença de Osányìn, Èsù, etc. Existem atualmente na África casas que praticam mais de um Òrìsà e o cargo semelhante ao de Bàbálòrìsà e Ìyálòrìsà. Verger ao escrever o livro, fotografou determinadas regiões de origem do culto de determinados Òrìsà, oque fez com que diversos adeptos acreditassem que aqueles Òrìsà  somente eram cultuados naquelas regiões e gerando a grande problemática das chamadas “Nações”, como exemplo: Ijesà, Oyo, Djéjé, Kabinda, etc. Posso afirmar com toda certeza que estas ditas “Nações” não existem, o que existem são ramificações de determinadas localidades da África, ou seja, “Raízes”.
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Nota - Nok - era uma civilização existente no norte da Nigéria que, no século V a.C. dominava a metalurgia. O seu extenso legado constitui aquilo que se chama a Cultura Nok. Por razões desconhecidas, esta cultura desvaneceu-se por volta do século II ou III da nossa era.

Ou até mesmo como se chamava antigamente “Lados”. Com tentativas errôneas de pesquisas que acabaram confundindo o entendimento desse assunto, criando-se grandes distorções como exemplo a associação da origem da “Kabinda” no nosso estado, vinculando a mesma a uma região de origem Bantú da África. Para chegar a esse entendimento, convido os amigos a pesquisarem e estudarem o termo “Nàgó”. Este merecedor de um próximo trabalho de pesquisas.


Figura 01
Iniciações Nàgó, sem raspar a cabeça em Benin
Em comparação com foto de uma iniciação no Batuque afro-Sul, efetuada pela Saudosa Ìyálòrìsà Apolinária.




























Figura 02
Mapa entre região de Benin e Nigéria, de onde provém os Nàgó.






















Figura 03
Ègún tendo contado com seu descendente em território Yorùbá.



Figura 04
Sineta escavada em Ibadan, sendo do período Nok. Notem o formato da sineta encontrada na idade do ferro. Esta era foi conhecida como Oba jegi jegi” (a era do rei que comia madeira). Esta foi à época do ferro (Ògún), pois as forjas necessitavam de madeira para queimar e fundir o ferro. Foi Ògún quem fabricou os implementos de ferro nesta época.



















Figura 05

Instrumentos de percussão usados no Batuque e também na África. Como podemos verificar nossos instrumentos não estão baseados no Candomblé.



































Figura 06
Sèré de Sàngó (Xerê de Xangô) usado ritualmente pela divindade, bem como, em seu assentamento.

















Figura 07 e 08
Òrìsà Òsun e Òrìsà Sàngó manifestados sem serem vestidos





















Fontes Bibliográficas

Civilização Nok: Wikipédia / Armarium Libri / Mundo Educação

Ìyálòrìsà Mãe Senhora (Nota² - pág. 01) – fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre:

Ketu – (Nota³ - pág. 01) - fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre:

Omotobàtálá, Osvaldo – Cultura y Religiosidad Djédjé Nagó – 2007 \ Bayo Editores.

Omotobàtálá, Osvaldo - Os Nàgó – livro: Àse Bàbá mi (pág. 06) – 2008\ Bayo Editores.

VERGER, Pierre - Biografia (Nota¹ - pág.01) – Site Fundação Pierre Verger:

VERGER, Pierre - DVD: Mensageiro entre dois mundos / Direção: Lula Buarque de Hollanda / Narração e Apresentação: Gilberto Gil / Produção: Conspiração Filmes, Gegê Produções, GNT GLOBOSAT / Tamanho:19x13,5x1,5

VERGER, Pierre - Orixás (Deuses Iorubás na África e no novo mundo) - Editora Corrupio

WOLFF, Erick – Ògún e a Serpente – fonte: http://iledeobokum.blogspot.com/2010/03/ogun-ejo-e-serpente.html

Yorùbá – fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre:


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