Assentamento de Sàngó em Òyó próximo ao palácio do Àláàfin
Kànbínà não é Bantú
Mógbà Rudi
Existem muitas confusões em respeito ao chamado lado de “Kabinda" ou "Kànbínà". Antigamente era mais comum escutar que este lado se chamava Kànbínà, mas acabou perdendo-se devido a intenção de diversos pesquisadores e autores em relacionar a palavra Kànbínà com a Àfrica, gerando grandes confusões por parte dos adeptos do Batuque Sulino. Sabemos que a tentativa de preservar, africanizar e até mesmo defender essa Nação, fez com que perdesse realmente o sentido da Kànbínà, pois acabaram deduzindo que Kànbínà seria uma dança folclórica[1]. Muitos pesquisadores tentaram fazer comparações com os rituais de Kànbínà serem uma mistura de fundamentos do Ijesà, Jéjé e até mesmo do Òyó, gerando grande polêmica aos adeptos do Batuque. Diversos debates acalorados até mesmo no Orkut levantaram grandes contradições, costumes, idioma falado e fundamentos cultuados por Kànbínà, mas ao pesquisar esse assunto com Sacerdotes diretos da Àfrica, me relataram que Kabinda não é um lado Yorùbá, nem Jéjé, tão pouco uma Nação, é um local de Angola onde habitam várias Nações, entre elas os Bakongo (Congos) e Mayombe como grupos mais destacados, sendo todos de origens e crenças Bantús, que na verdade rendem culto aos Bakisi (Nkisi), pois a Kànbínà do Batuque Sulino cultua todos os Òrìsà do panteão Yorùbá, mas deixo uma pergunta no ar: Por quê antigamente chamava-se Kànbínà? Será que os antigos não deixaram esse fundamento? Será que os antigos tiveram dificuldades em preservar fundamentos?
Gerando mais polêmica ainda, relatos direto da África deixam claramente que o nome correto é “Kànbínà” e não se deve escrever “Kabinda”, pois seu nome deriva da palavra Yorùbá “Òkànbí + ònà” que traduzido ficaria (O caminho de Òkànbí), a primeira vogal “O” não se escreve, nem tão pouco é pronunciada. Kànbínà faz referência aos seguidores do culto dos Reis de Òyó, levando Òkànbí a posição do primeiro Rei de Òyó, devido a escrituras onde relatam que:
“Odùduwà uniu-se a Olókun (Senhor dos Oceanos) assumindo a forma de Obá-Olókun (Rei dos Oceanos), tendo três filhos, Ògún, Ìsèdálè (equivalente a deusa Afrodite) e Òkànbí (deus do fogo). Òkànbí teve sete filhos, dentre eles Òrònmíyòn, que deu continuidade a missão de Odùduwà, na divulgação da Religião dos Orixás, tornando-se o mais famoso dentre todos os filhos por fundar Òyó”.
Nome também de um subgrupo de adoradores fiéis a Sàngó como Òrìsà supremo que também é Rei dentro do Batuque.
Sendo assim, fica claro que Kànbínà não é Bantú e sim Yorùbá, mais precisamente pertencem a raiz mais antiga do Òyó, sendo uma lástima que os adeptos do lado de Kànbínà, por desconhecer esses fatos, acreditam que tem alguma raiz Bantú e que essa Nação, cujo Rei é Kamuká veio direto da região de Kabinda, onde nunca se ouviu ao menos falar em algum Nkisi Kamuká, mas convido a todos a pesquisarem como Kamùkan, sendo um caminho de Sàngó como tantos outros, mas precisamente um Sàngó cultuado do lado de fora do templo.
Se analisar bem o sobrenome Barúolofina, encontraremos Barú= (Rei que governou Òyó, muito enérgico e contam lendas que cozinhava inhame com o fogo que saia de suas narinas) + Olófin= (Senhor do Palácio) + Ina= Fogo, ficando “Barú senhor do palácio de fogo”, quem conhece lendas de Sàngó entenderá essa qualidade. Kànbínà é talvez a raiz mais pura e antiga do povo Yorùbá, portanto Kamuká nunca foi nem será um Nkisi e muito menos Bantú.
De acordo com a crença Yorùbá todos Òrìsà foram em algum momento seres humanos que viveram na terra com exceção de alguns Òrìsà, por essa razão também passaram pela etapa de serem Egúngún até se tornarem Òrìsà, isso aconteceu com Sàngó quando enforcou-se na árvore Ayan, onde seus súditos promoveram seu culto, Kànbínà tem culto direto aos Egúngún devido a cultuar um dos maiores antepassados da Dinastia Yorùbá. Sabendo que a etapa de Eégún vive paralelamente com a de Òrìsà, seguem existindo ambas faces, porque a pessoa está morta, então tem duplo culto: como Eégún e como Òrìsà. Todos Òrìsà com exceção dos Funfun tem caminhos e qualidades de fora do templo, onde trabalham com a feitiçaria, Eégún, Èsù, etc.
Então todos os Òrìsà podem ser cultuados no lado de fora do Ilé, menos Òsà-nlá. Isso é comprovado no odù Oyekú Mejì me passado pelo Aworísà Omotobàtálá:
Quando os Òrìsà vieram ao mundo, chovia muito, então ao chegar foram improvisados abrigos aos Òrìsà para lhes acolherem, Bàrà se escondeu em uma cabana de palha na entrada da cidade, onde habitariam os demais Òrìsà, Ògún foi para baixo das árvores no mato, Oya se escondeu no bambuzal, Sànpónnà com suas folhas da palmeira improvisou uma cabana e assim os demais Òrìsà, menos Òsànlá que seguindo o conselho que haviam dado os Bàbálawo celestiais, seguiu caminhando lentamente baixo de chuva até chegar no povoado. Ali, como foi o primeiro a chegar, todos pensaram que deviam ser ele o mais poderoso de todos os Òrìsà e o líder, lhe receberam com festejos e lhe deram roupas brancas para secar-se e construíram uma casa para ele.
Por isto Òsànlá é o único Òrìsà que realmente deve viver dentro de casa, o restante pode ser cultuado do lado de fora do templo.
Convidamos aos amigos estudiosos, pesquisadores, historiadores para que pesquisem a origem do nome "Gululu", nome este que acreditam alguns adeptos que trouxe a Kànbínà de regiões Bantús e ensinou Waldemar dos Santos (Patriarca da nossa nação no RS). Procurem o estudo do nome mencionado, onde se encaixaria no idioma Kimbundo e ou Kikongo e depois tentem dar o entendimento dele no idioma Yorùbá, como procurando em dicionários: Gu, Gú, Gù + lu, lú, lù.
[1] Escritor Paulo Tadeu Barbosa menciona que a origem da palavra Kabinda vem de uma região Bantú e que cambina seria uma dança folclórica, conforme seu livro intitulado “Orixá Bará” – 2006, Porto Alegre, Editora Toquí.